*Artigo produzido pelo parceiro Fátima Saúde
Os fones de ouvidos tornaram-se acessórios indispensáveis, por serem práticos e portáteis seu uso está cada vez mais frequente no dia a dia da população. Com o avanço da tecnologia e a chegada dos smartphones o uso do fone vai além de ouvir uma boa música, passou a fazer parte do estudo, trabalho e lazer. Sua utilização ampliou-se para a audição de lives, audiobooks, podcasts assim como reuniões de trabalho on-line. Novas tecnologias na fabricação, o design dos fones, o bluetooth, bem como a durabilidade da bateria são alguns dos fatores que favorecem o uso desses aparelhos por um período mais prolongado e muitas vezes em intensidade acima da recomendável. Dependendo do aparelho e tipo de fone utilizado, o nível de intensidade pode atingir 120 dB, intensidade suficiente para provocar perda auditiva.
As perdas auditivas ocasionadas por exposição a sons intensos, inicialmente são reversíveis pois, a mudança de limiar auditivo ocorre de forma temporária, perda auditiva temporária. Isso acontece em virtude das células ciliadas do órgão de Córti serem temporariamente danificadas e após repouso auditivo (silêncio) elas retomam sua atividade normal. Porém, quando a exposição passa a ser frequente, essas células tendem a não retomar sua atividade, acarretando a perda auditiva permanente.
A perda auditiva permanente, se instala de forma lenta e progressiva, caracteriza-se pela lesão das células ciliadas do órgão de Corti, causando perda irreversível da audição.
Não há, no Brasil, regulamentação para os níveis de pressão sonora emitidos nestes aparelhos. Utiliza-se como parâmetro os padrões de exposição ao ruído ocupacional, conforme a norma regulamentadora 15 (NR 15) que estipula 85 dB (A) para uma exposição de oito horas diárias ao ruído. Mesmo que a norma tenha sido elaborada para trabalhadores, a música pode causar danos auditivos de maneira semelhante, dependendo do tempo de exposição, intensidade e suscetibilidade de cada indivíduo.
O uso a longo prazo destes equipamentos sonoros pode causar também o aparecimento de zumbido e queixas plenitude aural, além da perda auditiva.
O zumbido pode ser percebido no ouvido como um chiado ou zunido entre outros sons que só o indivíduo percebe. Ele pode aparecer como um sintoma auditivo após exposição a música de alta intensidade. A plenitude aural, sensação de ouvido “fechado/abafado” também pode ser resultado da exposição a sons intensos.
O uso do fone de ouvido é alvo de preocupação no ambiente ocupacional no qual alguns trabalhadores, especialmente os mais jovens utilizam o equipamento durante a jornada de trabalho algumas vezes por baixo do equipamento de proteção auricular tipo concha ou até mesmo disfarçados por baixo de capuz e toucas. Neste caso fica o alerta, ao perigo do uso do fone de ouvido que, além do dano de perda auditiva pode propiciar a indução ao risco do acidente na operação de máquinas.
Como as empresas podem atuar neste cenário?
Como ainda não temos uma padronização e recomendações específicas e seguras para a este tipo de exposição, a atuação deve ser comportamental através da sensibilização dos trabalhadores por meio da informação como, treinamento e engajamento desta população em campanhas de Saúde Auditiva para que haja a mudança de comportamento, além monitoramento nos postos de trabalho.
Um dos instrumentos efetivos ao desenvolvimento desta cultura de cuidado com a audição é a implantação dos PCAs – Programa de Conservação Auditiva. A estrutura do PCA em sua implantação, conduzida por fonoaudiólogos do Trabalho, tem surtido resultados satisfatórios na conscientização dos trabalhadores quanto ao adequado uso de fone de ouvidos em momento de lazer ou até mesmo em áreas permitidas, bem como o uso correto, asseio e manutenção dos EPIs. O escopo do PCA tem atividades de treinamentos que favorecem os RHs, Sesmts e lideranças o controle auditivo em todos os setores das empresas.
Os novos hábitos estão presentes nas empresas, porém os devidos cuidados e atuação em conjunto com profissionais especialistas podem fazer a diferença na manutenção da saúde auditiva dos trabalhadores. O ideal é que esta população se habitue a utilizar as novas tecnologias de forma adequada, mantendo interação social aliada a conscientização cuidado com saúde auditiva.
Patrícia Ratkiewicz Framarim
Fonoaudióloga do Trabalho – Fátima Saúde
CRFa 7-8539 /CFFa 7963/20